Pedro Abrunhosa, conhecido cantor português, passou parte da sua infância a brincar num dos edifícios mais ilustres da cidade invicta. O Grande Hotel do Porto, dirigido na época por Álvaro Machado, avô do cantor, foi fruto da visão de um gondomarense que quis reproduzir no Porto o charme e encanto das grandes capitais europeias.
Mas, afinal, quem foi esse gondomarense, trisavô de Pedro Abrunhosa?
Daniel Martins de Moura Guimarães nasceu a 26 de agosto de 1827, na freguesia de Fânzeres, no lugar de Santa Eulália. A 5 de novembro de 1844, com apenas 17 anos, anos embarca para o Brasil, fixando a sua residência no Rio de Janeiro, onde morava o seu padrinho João António Airosa.
Não existem muitos registos da sua atividade no Brasil, mas sabemos que regressa em 1867 com uma fortuna avaliada em mais de 70 contos de reis, valor muito significativo para a época e casado com uma viúva francesa.
Aplicou a fortuna no comércio e indústria, assim como em viagens, cultivando-se, recorrendo a guias importantes e criando o próprio guia, que publica em 1871 e o torna ainda mais célebre. No “Guia Amador de Bellas-Artes” ele retrata as suas viagens entre 1865 e 1867, nas quais percorreu 11 países europeus.
Descreve a arte, o património e os aspetos mais importantes das vilas e cidades europeias (54 em Portugal, 22 em Espanha, 14 em França e Itália, sete em Inglaterra, seis na Bélgica e Holanda, nove na Alemanha, Áustria e Suíça, oito nas margens do Reno); as escolas de escultura e pintura e artistas consagrados e em emergência; a relação de hotéis, indicação de distâncias entre os centros urbanísticos e outros esclarecimentos ao viajante, como a comparação de preços e a diferença entre a 1.ª e 2.ª classe.
A tradição familiar diz que publicou dois livros, mas apenas foi encontrado o “Guia do Amador de Bellas-Artes”, assinado com as iniciais D.M. de M.G., de capa dura com encadernação original em percalina vermelha (ou azul) e letras douradas. Porventura a dúvida permaneça por o livro ter duas capas distintas, a vermelha e a azul.
No entanto, a obra mais marcante de Daniel Martins de Moura Guimarães não foi um livro. Após o seu regresso a Portugal e entre as suas viagens, decidiu construir na sua cidade um hotel semelhante aos que conhecera na Europa. Com esse propósito, começou a adquirir propriedades na Rua de Santa Catarina.
O Grande Hotel do Porto abriu as suas portas a 27 de março de 1880 e desde então têm sido inúmeros os seus hóspedes, alguns bastante célebres. Nos dias de hoje, podemos visionar dedicatórias feitas ao Hotel. Só para mencionar escritores, estão lá palavras de Fernando Pessoa, Fernando Assis Pacheco, Luís de Stau Monteiro, Mário Cláudio e António Lobo Antunes.
Destacam-se ainda as estadias dos ex-imperadores do Brasil D. Pedro II e D. Teresa Cristina (faleceu em 1889, durante a sua estadia), do ex-Presidente da República General Carmona e do ex-primeiro ministro Afonso Costa, que viria a ser detido no hotel após ordens de Sidónio Pais.
Daniel Martins de Moura Guimarães era um apaixonado pela cidade do Porto e pretendia ser sepultado no cemitério da Lapa, onde construiu para o efeito um mausoléu. Nunca o chegou a utilizar pois, pressionado pelas dívidas e a perda do hotel para os credores, acabou por se suicidar, em 1893, a bordo de um navio, a caminho do Rio de Janeiro, onde acabou por encontrar a sua última morada.