Jornalista, poeta, editor e tradutor, nasceu em Portugal mas foi em África que deixou a sua maior marca.
Fernando Leite Couto nasceu em Rio Tinto, Gondomar, a 16 de abril de 1924. Conforme o próprio escreveu na sua biografia, “estes arredores do Porto, um ambiente de arrabalde citadino e ainda de alguma ruralidade”, tornou-o um “apaixonado da natureza”. Estudou depois no Porto, onde beneficiou de uma atmosfera social muito viva, típica dos finais da Segunda Guerra Mundial.
Na adolescência tirou muito proveito da vivência social e cultural dos cafés. Foi aí que conheceu a imprensa francesa clandestina que escapava à censura da ocupação alemã. A poesia de resistência seduziu-o a tal ponto, que em 1944, completou o seu primeiro livro, que ficou para sempre inédito e se chamava “Amada de Nome Indizível”. Desses poemas apenas um foi editado, na revista “Mundo Literário”, de Adolfo Casais Monteiro, a pedido deste. Ao mesmo tempo e como era moda na época, Fernando Couto publicou poesia de “engagement” em jornais de Vila Nova de Famalicão e da Póvoa de Varzim.
Parte já adulto para África, mais concretamente Moçambique. Fixa-se na província da Beira e aí publica a sua primeira obra, “Poemas junto à fronteira”, em 1959. Na então cidade de Lourenço Marques, Fernando Couto não é só um escritor – gostava de salientar que era, acima de tudo, um jornalista, como demonstra a sua carreira, feita no “Século”, em “O Comércio do Porto” e no “Notícias” (Beira), correspondente do “Jornal de Noticias “ e colaborador de vários jornais de Portugal e Moçambique.
Voltando à escrita, antes de 1971, ano de edição de “Feições para um Retrato”, Fernando Couto tinha já publicado “Jangada de Inconformismo “ (1962) e “O Amor Diurno” (1962), sendo este último referido numa recensão crítica de Eugénio Lisboa (n. 1930) com transcrição na badana da presente obra.
Mais de 20 anos depois, regressou a Portugal, nos pós 25 de Abril de 1974. Chegou a trabalhar no “Comércio do Porto”, antes de voltar novamente para Moçambique, onde foi um dos responsáveis pela criação da Editora Ndjira (hoje parte do grupo Leya). Fernando Couto, a par da sua criação literária, manteve o seu trabalho no jornalismo e também na rádio, onde chega a colaborar no Aero Clube (Beira), na Rádio Clube de Moçambique (Lourenço Marques) e na Rádio Moçambique (Maputo).
É certo que a sua produção jornalística marcou a imprensa escrita (onde assinava muitos dos seus trabalhos com o pseudónimo “Pai Fernando”) e a produção radiofónica da Beira, mas a obra poética não é de menosprezar, no contexto moçambicano da época: “Monódia” (1987),”Os olhos deslumbrados” (2001),”Rumor de água - Antologia Poética de Fernando Couto” (2007) e “Vivências moçambicanas” (2008).
Fernando Leite Couto faleceu, em Maputo, a 10 de janeiro de 2013, deixando uma extensa obra escrita e um herança histórica e genética. Em 2015, o seu filho Mia Couto, um dos autores mais conhecidos de Moçambique e da lusofonia, criou a Fundação Fernando Leite Couto com a ideia de promover as artes, a cultura e a literatura de Moçambique e dar-lhes um espaço na capital moçambicana. A sede foi inaugurada a 15 de Abril de 2015 pelos filhos de Fernando Leito Couto: Mia, Fernando Amado e Armando Jorge. A fundação organiza eventos e oferece bolsas e prémios com a ideia de promover jovens escritores moçambicanos.