Gondomar foi berço de vários bispos da Igreja Católica. Um deles foi também um revolucionário liberal e deixou a sua marca na história de Portugal.
Manuel Ferreira nasceu a 4 de dezembro de 1762, no lugar do Pipo, pertencente à freguesia de S. Cristóvão de Rio Tinto, no concelho de Gondomar. Filho de lavradores, residiu neste lugar até aos seus 18 anos, idade com que foi admitido no mosteiro dos religiosos descalços de Santo Agostinho, vulgarmente conhecido por Colégio dos Grilos, na cidade do Porto.
Adotou o nome de Frei Manuel de Santa Inês em 1781 e, ao longo do seu percurso religioso, ocupou os mais altos cargos dentro da congregação, sendo eleito, em 1816, Geral da Ordem Franciscana.
Durante a revolução liberal foi especialmente ativo na defesa dos liberais, nomeadamente no acolhimento e recolha de soldados que se dirigiam aos mosteiros por ele dirigidos, pelo que quando D. Pedro entrou no Porto, a 9 de julho de 1832, Frei Manuel de Santa Inês não era um desconhecido para o futuro Rei. Quando o Bispo do Porto, D. João de Magalhães e Avelar, abandonou a diocese e se refugiou em Lamego, os conselheiros de D. Pedro não tiveram dúvidas sobre a pessoa ideal para o cargo.
Frei Manuel de Santa Inês foi nomeado Governador do Bispado do Porto a 18 de julho de 1832, bem como Governador interino do Arcebispado de Braga, num decreto assinado pelo Ministro José Xavier Mouzinho da Silveira.
A 15 de agosto de 1833, o Rei D. Pedro elegeu o Frei Manuel de Santa Inês como Bispo do Porto. Foi nessa qualidade que, a 6 de fevereiro de 1835, D. Manuel de Santa Inês acompanhou as exéquias de D. Pedro, em cerimónia marcada pela doação do coração do Rei à cidade do Porto.
A sua ação como Bispo do Porto foi marcada por reformas importantes, destacando-se de entre elas a construção do primeiro cemitério público da cidade, o cemitério do Prado do Repouso.
Manuel de Santa Inês faleceu a 24 de janeiro de 1840, estando sepultado no cemitério da Lapa, junto à igreja, que curiosamente tem no seu interior o coração do rei que o elegeu bispo.