Um dos grandes nomes do neorealismo nacional nasceu portuense mas escolheu Valbom, no concelho de Gondomar, para viver e instalar o seu atelier, onde criou, na década de 1990, a fundação que recebeu o seu nome.
Júlio Resende, pseudónimo de Júlio Martins da Silva Dias, nasceu no Porto, a 23 de outubro de 1917. Estudou na Academia Silva Porto, como aluno de Alberto Silva, desde 1930 e depois, em 1937, frequentou as Escolas de Belas-Artes do Porto. Iniciou a sua atividade artística ainda jovem como ilustrador em semanários infantis e na imprensa diária.
Em 1946 obteve uma bolsa de estudo do Instituto para a Alta Cultura, o que lhe permitiu experiências pela Europa, em especial por Paris e Madrid. Teve assim contacto privilegiado com as obras de Picasso e de Goya, o que, segundo o próprio, despertou em si a atenção especial para a pintura abstracionista.
Na década de 1950 o pintor fixou-se no Porto, partilhando o tempo entre a arte e o ensino. Por influência da região, a gente do mar passou a constituir o tema dominante da sua pintura, tendo apresentado as suas obras em exposições individuais em países como Espanha, Bélgica, Noruega e Brasil. Em 1951,venceu o Prémio Especial da Bienal de São Paulo e, em 1959, volta a surpreender, conseguindo uma menção honrosa. Dez anos mais tarde, voltou à Bienal de Artes de S. Paulo, acabando por vencer o Prémio Artes Gráficas, com as ilustrações do romance "Aparição", de Vergílio Ferreira.
Nos anos 1960, Resende interessou-se também por projetos de decoração e arquitetura, onde se destacam seis painéis em grés no Palácio da Justiça de Lisboa. No Porto, criou dois painéis cerâmicos para o Hospital de São João e ainda o gigantesco painel de azulejos "Ribeira Negra" existente à saída do tabuleiro inferior da Ponte de D. Luís I, acabando este painel por se tornar um dos seus trabalhos mais reconhecidos. Em Gondomar, encontra-se um fantástico painel de azulejos, localizado mesmo no centro da freguesia de Gondomar (São Cosme). O painel pode ser apreciado no Largo do Souto, junto ao anfiteatro.
A obra de Júlio Resende valeu-lhe inúmeros prémios e condecorações. Foi nomeado membro da Academia Real das Ciências, Letras e Belas-Artes Belgas, em 1972, e em 1982 recebeu as insígnias de Comendador de Mérito Civil de Espanha atribuídas pelo Rei de Espanha. Em Portugal foi distinguido com o Prémio AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte) em 1985.
A 23 de outubro de 1997, na presença do Presidente da República, Jorge Sampaio, teve lugar a sessão de abertura do Lugar do Desenho – Fundação Júlio Resende, instituição onde está reunido um espólio de cerca de dois mil desenhos, que o artista reuniu ao longo da sua carreira e que é hoje uma referência da cultura e da arte nacional.
“Mestre” Júlio Resende faleceu a 21 de setembro de 2011, no seu Lugar do Desenho, em Valbom, freguesia de Gondomar onde escolheu ser sepultado.